domingo, 17 de outubro de 2010

Sociedade Civil | Familia... um emaranhado de emoções e ligações humanas





Baseada no filme com o mesmo nome, «Parenthood» segue a vida dos diferentes membros de uma família focando-se nos desafios diários da paternidade/maternidade na era moderna caracterizada pelos telemóveis, leitores de mp3 e redes sociais.

Utilizando uma mistura de diálogos inteligentes com um humor suave, esta é uma série doce, divertida e apaixonante que conta com grandes performances de actores conhecidos como Peter Krause, Lauren Graham, Monica Potter ou Craig T. Nelson.

Série que centra a sua história na complicada trama das relações familiares - Sapo TV


Parentalidade... tudo aquilo que é inerente à função de pai (no sentido lato da palavra). Este é o tema central desta série americana que teve inicio no decorrer deste ano e que já vai na sua segunda temporada.

Na minha opinião, um dos segredos para uma grande série é ter bons protagonistas, principais e “secundários”, conciliados com um argumento coerente e original. Quando digo original não falo de ser uma ideia nova, refiro-me à abordagem que é feita a um tema tão delicado e permanente como este - a Familia.

A “disfuncionalidade” de qualquer familia define-se na diferença que preconizamos perante o modelo de familia que cada sociedade configura mediante os seus valores fundamentais. Durante 40 minutos, podemos observar o quotidiano de uma familia que se tenta aproximar da típica familia americana que se insere no também recorrente “sonho americano”.

Perante um argumento tão generalista e abrangente, seria de esperar uma série banal, recheada de clichês e adornada de diálogos óbvios e finais felizes, dando ao espectador a “falsa” sensação de segurança e estabilidade que normalmente nos é dada nas novelas em horário nobre.

Mas é precisamente neste ponto que esta série se destaca: ela tira-nos da nossa zona de conforto e põe-nos a pensar, quase como um “wake up call” para o papel que diariamente representamos na nossa familia.

Desde o drama de pais que têm um filho com sindrome de Asperger – semelhante ao autismo – até uma mãe solteira, desempregada e com dois filhos, passando por uma relação conturbada entre “avós”, não deixando de fora uma relação entre um casal onde se retrata a nova tendência em que o Pai se assume-se como a Mãe de serviço e fica em casa a tomar conta da filha e... da casa!!!

Entre outros temas, a verdadeira beleza de cada episódio traduz-se na forma como se exploram as ligações humanas e as pequenas idiossincrasias de cada personagem, tanto como individuo isolado como alguém que tem necessariamente de reconhecer e assumir o seu papel dentro do seu circulo de amigos, familia, trabalho ou na sociedade em geral.

Desde os diálogos até à própria interacção fisica e emocional entre os personagens, reúnem-se aqui todos os ingredientes que tornam este programa televisivo em algo magnetizante, quem sabe pedagógico e, acima de tudo, que estimula a reflexão e introspecção em todos nós que, enquanto seres humanos, somos carentes de relações humanas com significado.


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Extreme Makeover | Esse véu tão démodé







O parlamento francês aprovou hoje definitivamente, com o voto do senado, o projeto de lei que interdita o uso do véu islâmico integral em espaços públicos, a entrar em vigor na primavera de 2011.
A promulgação da lei está ainda dependente da emissão de um parecer do Conselho Constitucional, que se deverá pronunciar dentro de um mês. 
França, onde o véu integral é usado por cerca de 190 mulheres, segundo estimativas oficiais, torna-se assim o primeiro país europeu a proceder a esta interdição generalizada. Uma medida similar está em curso de adoção na Bélgica. 


Dois meses após a aprovação na câmara baixa do parlamento francês, foi agora a vez do senado confirmar a proibição legal do uso do véu islâmico em locais públicos. Na verdade, a proibição refere-se à “dissimulação do rosto”, embora o objectivo - claro e assumido - não esteja relacionado com o carnaval.

Aproveitando a deixa, decidi fazer um pequeno levantamento de argumentos favoráveis a esta decisão.

o véu ameaça a minha segurança - a burqa e o niqab podem ser usados (e já foram usados) para ocultar armas e bombas, pelo que (afinal) isto é mesmo é uma questão de protecção da integridade e dos direitos de todos nós. É bem lembrado. Aliás, já não vou olhar da mesma forma para freiras, mulheres corpulentas, jovens com sacos de desporto e turistas com malas de viagem, nomeadamente os de tez acastanhada, escurinhos. Além disso, tenho direito de saber se a pessoa que está ao meu lado no elevador tem cara de sociopata. Imaginemos só o que seria poder acabar com todos os crimes, raptos, tiroteios em escolas e desvios de aviões levados a cabo por pessoas ocultadas com véus islâmicos... 

a obrigação de as mulheres muçulmanas usarem burqa é indecente porque simboliza a opressão e lhes nega a sua autonomia - de acordo, mas acrescento: a proibição de as mulheres muçulmanas usarem burqa é indecente porque simboliza a opressão e lhes nega a sua autonomia. Mais: o véu simboliza a opressão, não é a opressão. Acabar com o véu não é acabar com a opressão.

os que defendem o "direito de escolha" das mulheres a usar o véu integral estão a apoiar uma ideologia que só atribui um direito às mulheres - o de cobrirem os seus rostos - pondo de parte as mulheres que o fazem por sua opção, ainda que condicionadas pelo peso da cultura e da tradição, não é esta lei que vai libertar as muçulmanas da discriminação e subjugação por parte dos seus maridos, pais e familiares. A lei francesa não permite às mulheres saírem de casa de véu; a tradição islâmica não lhes permite sair de casa sem véu. Duas soluções: ou a sua comunidade se torna súbita e inesperadamente menos fundamentalista, ou estão condenadas a prisão domiciliária. O caminho a percorrer é longo, bem mais longo que este atalho legal.


Para o governo francês, trata-se aparentemente de uma questão de igualdade, dignidade, integração. Percebo e aplaudo a intenção de não criar guetos culturais e integrar todos os habitantes franceses de modo a que a convivência seja pacífica e tolerante. Contudo, acho que esta medida é a forma mais rápida de se conseguir o contrário. Radicalizar posições só serve para afastar as duas culturas, incentivando o “orgulho muçulmano” a exacerbar as suas diferenças e identidade própria.

Recuperando o lema da revolução francesa (os tais princípios republicanos referidos pela ministra francesa) - Liberté, Egalité, Fraternité - podemos reparar que a igualdade está devidamente enquadrada pela liberdade e pela fraternidade. Não faz sentido, pois, aceitar que a igualdade se consegue pela imposição de vestirmos os mesmos trajes, comermos a mesma comida ou termos os mesmos princípios e cultura. Em suma, igualdade não é normalização. Só seremos iguais enquanto todos tivermos liberdade de fazermos as nossas escolhas e seguirmos os nossos princípios e culturas.

Já no passado Sarkozy havia relacionado o uso deste tipo de indumentária com a perda da identidade francesa. De resto, este acto parece totalmente enquadrado com a expulsão de ciganos ou a proibição de minaretes na Suiça: más desculpas para branqueamentos étnicos.

Conforme demonstra Raquel Evita Saraswati, num texto que vale a pena ler e reler, a burqa e o niqab foram criados para tornar invisíveis as mulheres dentro de algumas sociedades muçulmanas. O estado francês criou uma lei que torna invisíveis as mulheres muçulmanas aos olhos da sociedade francesa. Num e noutro caso, o instrumento é o mesmo: o corpo da mulher. É diferente?

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Preço Certo | A Autoridade e a Concorrência

Chama-se Galp Base e já está a funcionar num posto em Setúbal. Carlos Barbosa, presidente do ACP, diz que esta é a prova de que a gasolineira 'sempre pôde baixar o preço dos combustíveis'.
Numa tentativa de combater o preço da gasolina dos hipermercados, a Galp lançou um conceito do género, denominado Galp Base, com preços de combustíveis mais baixos. [...]
O Automóvel Clube de Portugal (ACP) já reagiu a este anúncio, referindo que esta é a prova de que a Galp 'sempre pôde baixar o preço dos combustíveis'. 'É uma prova de que tínhamos razão, porque o combustível que a Galp quer agora vender em Setúbal numa chamada ‘bomba piloto’ vai acontecer no resto do país, porque a Galp tem margens para poder baixar os combustíveis', referiu o presidente do ACP, Carlos Barbosa.
O presidente do ACP lembrou ainda que 'Talvez seja altura de perceber que a [Autoridade da] Concorrência não funcionou mais uma vez', desejando que a partir de agora 'tenha percebido a lição, de uma vez por todas, de que os combustíveis podem ser mais baratos em Portugal'.
Questionado sobre o nosso jornal sobre as declarações de Carlos Barbosa, Pedro Marques Pereira foi peremptório. 'Estamos a falar de produtos diferentes. A gasolina é diferente, as infraestruturas são diferentes, o nível de serviço não exige mais do que um empregado. Por isso o preço baixa'.
O anúncio da abertura da Galp Base surge no mesmo dia em que o 'Diário Económico' noticiou que um quarto do mercado dos combustíveis está a escapar às grandes superfícies, dado o crescimento dos postos dos hipermercados que vendem combustíveis mais baratos.




Segundo o ACP, a Autoridade da Concorrência não funcionou. A meu ver, se o papel da Autoridade da Concorrência é obrigar as empresas a praticar preços mais baixos porque sim, está condenado ao mais absoluto falhanço. Aliás, qual o sentido disso? Crie-se então uma Autoridade dos Preços Baixos. Só percebo uma Autoridade da Concorrência que sirva para promover (espanto!) a concorrência. 

A história é simples. Os principais distribuidores tinham um modelo de negócio idêntico - mesmo tipo de serviço e preços similares. Surgiram postos em hipermercados com preços low-cost e estruturas mais leves. Seguiram-se um rápido aumento do preço dos combustíveis e uma crise económica, que tornaram os consumidores mais sensíveis ao preço. A desconfiança inicial quanto à qualidade dos low-cost (alimentada pelos grandes distribuidores) foi ultrapassada com o tempo e a experiência, e o seu peso cresceu de forma clara.

Hoje em dia, quem dá prioridade aos preços baixos tem postos de abastecimento low-cost, e quem não quer sair do carro para abastecer também tem as suas opções. Isto aconteceu não porque alguém se lembrou de obrigar as gasolineiras a reduzir preços, mas porque o Intermarché, o Carrefour, o E. Leclerc e o Jumbo (pelo menos) perceberam que havia um segmento de mercado que não estava a ser adequadamente servido. 

De facto, "os combustíveis podem ser mais baratos em Portugal", mas também podem ser caros, se alguém preferir um serviço mais cómodo. Por isso não faz sentido limitar preços, porque nem todos queremos o mesmo. Precisamos de preços baixos, tal como precisamos de preços altos.

A actuação de reguladores pela proibição é preguiçosa e pouco inteligente. Limitar preços, ou limitar cobranças de taxas e comissões, por exemplo, não trazem qualquer benefício na generalidade dos casos. A meu ver, o foco da actuação deveria ser colocado, isso sim, na promoção da concorrência (facilitar a entrada de empresas no sector) e na publicitação de informação sobre preços e condições de cada oferta.

A partir daí, a decisão é de cada consumidor, com base nas suas prioridades e não nas prioridades da Autoridade da Concorrência.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Fábulas da Floresta Verde | Umas inverdades convenientes







Like it or not, global warming is real, it is man-made, and we need to do something about it. But we are not facing the end of the world.



Climate science is a subtle and fiendishly convoluted discipline that rarely yields unambiguous forecasts or straightforward prescriptions. And after 20 years of much talk but precious little action on global warming, a certain amount of frustration is to be expected. There is an understandable desire to want to cut through the verbiage and shake people by the shoulders.


Unfortunately, trying to scare the socks off of people doesn’t help matters. Yes, a startling statistic, combined with some hyperbolic prose, will make us sit up and pay attention. But we quickly become desensitized, requiring ever more outrageous scenarios to move us. As the scare stories become more inflated, so, too, does the likelihood that they will be exposed for the exaggerations that they are – and the public will end up tuning the whole thing out.


This may explain recent polling data showing that public concern about global warming has declined precipitously in the last three years. In the United States, for example, the Pew Institute reported that the number of Americans who regard global warming as a very serious problem had declined from 44% in April 2008 to only 35% last October. More recently, a BBC study found that only 26% of Britons believe that man-made “climate change is happening,” down from 41% in November 2009. And in Germany, Der Spiegel magazine reported survey results showing that only 42% feared global warming, compared with 62% in 2006.


Fear may be a great motivator in the short term, but it is a terrible basis for making smart decisions about a complicated problem that demands our full intelligence for a long period.










Por vezes a realidade não nos basta. É pequena, triste, insuficiente.

Desde que o mundo decidiu dar as mãos na luta contra as alterações climáticas, há uns anos, de olhos colados em Uma Verdade Inconveniente de Al Gore, uma enxurrada de conclusões científicas assustadoras colocou o ambiente nas bocas do mundo. Contudo, as nossas prioridades mudam, e em época de crise não é fácil mantermos em mente que as nossas acções quotidianas farão com que o mundo acabe lá para 2050 ou coisa que o valha.

Gosto de ler o Bjorn Lomborg não por achar que, no meio de todo o ruído produzido pelos ambientalistas, é ele que nos apresenta a Verdade, mas sim porque tem um ponto de vista diferente daquilo que normalmente nos entra pelos ouvidos adentro. 

Neste artigo, defende que a escalação de argumentos apocalípticos anti-aquecimento global surgiu como reacção de ambientalistas e cientistas ao adormecimento das populações. Como um paciente que vai criando resistências a um medicamento que usa de forma prolongada, são necessárias doses cada vez maiores de medo para manter as populações acordadas. O problema é que ao inflacionar a realidade e optar por cenários extremos se resvala facilmente para argumentos que já pouco ou nada têm de verdade. Ainda está fresco o Climategate, talvez o exemplo maior destas acções.

Resultado: crescente desconfiança geral acerca dos cenários apresentados. Ou pior: descrédito até dos factos consensuais no meio científico, como a acção humana no aquecimento global.

O Lomborg argumenta que por detrás desta actuação se encontra a frustração de quem alerta para um perigo constantemente ignorado. Não pondo de lado esta justificação, acrescento outra: o ego. Penso que se percebe facilmente que quanto mais importante é a economia, mais importantes se tornam os economistas; quanto maior a atenção à saúde, tanto mais importantes serão os médicos. Da mesma forma, acredito que a cada convite para mais uma conferência crescia o amor pelo ambiente por parte dos Al Gores deste mundo. 

Ambientalistas e cientistas transformaram uma verdade inconveniente numa série de inverdades convenientes. Não vale a pena recriminar, até o ego é natural.

Por mim, não tenho dúvidas: se queremos que as pessoas prestem atenção às consequências da poluição, temos de motivar onde dói, e onde não se esquece. Estou certo de que a subida de preço dos combustíveis tem feito mais pelo desenvolvimento dos motores eléctricos e pelas energias limpas do que todos os discursos anti-poluição e todos os ursos polares a boiar em icebergues de 3x4 metros.




sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O elo mais fraco



A destruição criativa

"A economia portuguesa está a mudar e com enorme violência para muitos portugueses sem qualificação e pequenas e médias empresas sem capacidade de adaptação ao novo lugar que o mundo impõe para Portugal.

A velocidade com que se estão a destruir postos de trabalho menos qualificadas é uma das imagens desse abalo.

Os números ontem revelados pelo Instituto Nacional de Estatística mostram que em dois anos (2008 a 2010) deixaram de estar empregadas mais de 400 mil pessoas que só tinham nove anos de escolaridade. Em contrapartida aumentaram em 170 mil os empregados com escolaridade superior.
Claro que daqui não podemos concluir que a economia está a gerar empregos mais qualificados. Apenas sabemos que mudou a estrutura de qualificações do emprego, que o número de empregados com apenas nove anos de escola está a diminuir muito significativamente, enquanto aumentam, mais lentamente, os empregados com o ensino secundário e superior. O que está a fazer a maioria das pessoas com qualificações que arranjou emprego? Sabemos pouco.

Conhecemos daqui e dali algumas histórias de licenciados a trabalhar em caixas de supermercado ou em lojas. Mas serão essas histórias representativas? A realidade pode estar algures num ponto intermédio. Há emprego qualificado que está a ser criado e há empregados qualificados a fazer trabalho não qualificado. Duas dinâmicas que convergem para expulsar do mercado de trabalho quem andou pouco tempo na escola.

O que se está a passar leva à óbvia antecipação de que vamos viver durante vários anos com uma elevada taxa de desemprego caso essas pessoas menos qualificadas não emigrem ou não estudem.
O programa "Novas Oportunidades" é, desse ponto de vista, um importante contributo para combater o desemprego que esta crise está a gerar. A baixa escolaridade da mão-de-obra portuguesa ameaça ser uma restrição significativa à reestruturação do tecido empresarial.
Os casos de sucesso que se vão contando pelos dedos das mãos e justificam ainda que sejam transformados em notícia à medida que o tempo vai correndo tenderão a generalizar-se e poderão encontrar na falta de trabalhadores o problema maior para a sua generalização. Para já não é o que se está a passar, a crer pelo menos no tipo de empresas que se queixam de não conseguir arranjar emprego. Mas há sintomas, a par do perfil da dinâmica do emprego e do desemprego, de que se está a operar - finalmente - uma alteração estrutural na economia portuguesa.

O caso do encerramento da Charles, marca de referência de sapatos, é um de outros exemplos. Morre a Charles mas vivem com grande vitalidade as "Fly London". Sapatos não são exactamente sapatos simplesmente porque uns geram mais valor que outros - pouco importa se continuamos nas indústrias ditas tradicionais, o importante é subir, como está a acontecer na cadeia de valor.
O retrato do que se está a passar no emprego e na produção ainda é nebuloso mas mostra já que a economia está a mudar. Alguns estão a sofrer com o desemprego e as falência. Outros já estão a ganhar. Por enquanto ainda vemos mais destruição que criação. Mas o País está a mudar com dor e violência. Como é a destruição criativa."

8 Agosto2010 | Helena Garrido | Editorial do Jornal de Negócios



Permitam-me ser optimista!

A actual conjectura económica, derivada da crise financeira que se instalou nos finais de 2007, pode ser uma ocasião propícia para prosseguir com a necessária reconfiguração da economia portuguesa. Mas as reformas são duras, têm importantes custos sociais e exigem um Estado que lhes dê resposta.

Apesar das muitas críticas de forma que podem ser feitas ao anterior ministro da economia Manuel Pinho, é incontestável o seu mérito na adopção de uma estratégia para Portugal. Um mérito que é estendível a outros dos seus pares como os ministros das finanças, educação ou dos negócios estrangeiros.

No campo da educação, muito tem sido feito nos últimos anos. Apesar das imensas críticas que se têm ouvido (algumas delas tremendamente populistas e demagógicas e outras no interesse das corporações que teimam em “atrasar” o país), a verdade é que os últimos anos coincidiram com a reactivação das escolas profissionais, com a introdução do Inglês no 1º ciclo, com o programa novas oportunidades, com a difusão do acesso à informática e à banda larga e com a democratização do acesso ao ensino superior. Se é admissível que algum do trabalho realizado vai directamente para o campo das estatísticas, a verdade é que em pouco tempo teremos uma geração de jovens portugueses que possuirá competências ímpares para a inserção num mercado de trabalho cada vez mais competitivo e globalizado.

No campo da Economia, é evidente a diversificação da base exportadora e a melhoria de algumas das dimensões do clima de negócios potenciadas pelo Plano Tecnológico. Efectivamente, os custos de contexto tendem a diminuir. Depois, é incontestável que, não só evoluímos na cadeia de valor, como também exportamos para um número cada vez mais alargado de países. Aqui, a importância dada à diplomacia económica é fundamental: as unidades diplomáticas são já mais do que mero espaço de representação, são muitas vezes importantes alavancas para as políticas de exportação. Por outro lado, Portugal tem vindo a evoluir no ranking europeu da inovação, sendo mesmo o país, de entre os moderadamente inovadores, onde o crescimento é mais acentuado. E há a aposta nas energias renováveis, decisiva para um país tão dependente energeticamente do exterior.

As empresas que vêm nascendo têm maior vocação exportadora e integram uma mão-de-obra cada vez mais especializada e qualificada.

Estas dimensões da mudança que está a ocorrer no país trarão claras implicações sociais; custos para as franjas mais desfavorecidas da população portuguesa que temo não estarem a ser devidamente acautelados, acentuando-as como o elo mais fraco da sociedade. As restrições económico-financeiras implicaram a adopção de políticas sociais mais restritivas, nomeadamente ao nível do apoio aos desempregados. Ora as últimas estatísticas mostram que o desemprego de longa duração tem vindo a crescer, afectando principalmente pessoas com baixos níveis de qualificação. E a tendência é para o agravamento desta situação. Pede-se por isso que sejam dadas as condições para que as camadas da sociedade com menores qualificações possam ser formadas e enquadradas na “nova economia”. Pede-se também que os apoios sociais não sejam cortados de uma forma inconsciente.

Estes ajustamentos levam tempo mas são necessários; convém no entanto não esquecer que, mais do que nunca, é necessário um estado verdadeiramente social.




quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Lotação Esgotada | Sonho ou Realidade?




"Percurso Para realizar A Origem Christopher Nolan contou com um orçamento de 200 milhões de dólares (cerca de 155 milhões de euros), sem quaisquer restrições criativas. Desde os dois últimos filmes da saga Batman, especialmente com o sucesso de O Cavaleiro das Trevas (2008), Nolan se tornou num dos nomes mais poderosos de Hollywood. No entanto há um outro Christopher Nolan que não o realizador de blockbusters que somam milhões atrás de milhões. Aliás, o realizador começou no cinema de carácter mais alternativo. O seu primeiro filme, Following (1998), em que surgem os primeiros traços da personagem de Leonardo DiCaprio neste A Origem, teve um orçamento de... seis mil dólares (4 600 euros). O thriller psicológico (tema recorrente na sua cinematografia) Memento teve um orçamento modesto, mas com bons resultados. E foi este filme que o levou aos grandes estúdios, tendo sido Insónia (2002) o primeiro na Warner Bros."


In: ” Como se tornou num dos poderosos

fonte: DN Artes



O filme “Inception” (A Origem) é sem dúvida um marco no cinema, quer se goste ou não do género, do realizador, dos actores ou da história. Christopher Nolan já se tinha apresentado como um realizador inteligente e original com os filmes The Prestige, Insomnia ou Memento, mas é com Inception que ele tira todas as dúvidas sobre as suas capacidades de realização, produção e concepção de argumentos poderosos e originais. Também Leonardo DiCaprio aproveita mais uma vez para demonstrar a intensidade, a qualidade e a força com que interpreta cada personagem, protagonizando mais algumas cenas dignas de Óscar.


Com um argumento que demorou cerca de 10 anos a preparar, o filme fala-nos de um golpe de espionagem, de sonhos, de uma grande paixão e do poder da mente humana. Não quero revelar muito sobre o filme para não deixar aqui nenhum spoiler, mas não posso deixar de falar de algumas referências e alguns aspectos que ficam na retina (ou no ouvido):


- O enredo onírico do filme e que envolve todos os personagens é claramente o mote para uma argumento singular, tanto na abordagem ao tema dos sonhos como na própria concepção de uma história que se passa, na maior parte do tempo (ou todo o tempo!), dentro da mente humana!


- A banda sonora é extraordinária (ou não tivesse sido ela composta por Hans Zimmer), de tal forma que se sente a sua presença em todo o filme, pautando o ritmo e a cadência de cada cena e o desenrolar da acção;


- Fotografia e Realização brilhantes, tanto nos planos de filmagem e efeitos especiais como na beleza e originalidade dos cenários que nos são apresentados na tela, principalmente tendo em conta que estamos a falar de locais que apenas podem existir no campo da imaginação e que por isso facilmente poderiam ser uma desilusão face à dificuldade de concretização de ideias em coisas físicas;


- O desempenho dos actores é fantástico, nomeadamente o de Leonardo DiCaprio e de Marion Cotillard, que são os protagonistas de uma história de amor impossível. No entanto, fica a ideia, embora difícil neste género de filme, que falta um pouco mais de drama em algumas cenas e em alguns personagens – pormenor claramente secundário face ao peso do argumento principal;


- A narrativa do filme é ousada, embora não tanto como no Memento, mas suficiente para prender qualquer um à cadeira, atento e sedento de respostas para a confusão mental que se vai instalando; os diálogos são bastante precisos e esclarecedores (principalmente na 1ª parte do filme onde se explica tudo o que é necessário para perceber as cenas seguintes) e são uma forma de perceber as idiossincrasias de cada um dos personagens.


A interpretação desta história é subjectiva e dúbia, pois fica-se com muitas ideias mas poucas certezas, no entanto com uma boa pesquisa em sites e blogues podemos ter uma ideia mais concreta e precisa sobre a intenção e o conceito por detrás do filme. Recomendo vivamente o visionamento deste filme: no cinema, várias vezes e com predisposição para pensar e reflectir (dado que este não é um filme de Domingo à tarde), pois só assim poder-se-á degustar uma obra-prima do cinema actual!



What’s the most resilient parasite? An Idea! A single idea from the human mind can build cities. An idea can transform the world and rewrite all the rules. Which is why I have to steal it.” – Cobb