"A economia portuguesa está a mudar e com enorme violência para muitos portugueses sem qualificação e pequenas e médias empresas sem capacidade de adaptação ao novo lugar que o mundo impõe para Portugal.
8 Agosto2010 | Helena Garrido | Editorial do Jornal de Negócios
Permitam-me ser optimista!
A actual conjectura económica, derivada da crise financeira que se instalou nos finais de 2007, pode ser uma ocasião propícia para prosseguir com a necessária reconfiguração da economia portuguesa. Mas as reformas são duras, têm importantes custos sociais e exigem um Estado que lhes dê resposta.
Apesar das muitas críticas de forma que podem ser feitas ao anterior ministro da economia Manuel Pinho, é incontestável o seu mérito na adopção de uma estratégia para Portugal. Um mérito que é estendível a outros dos seus pares como os ministros das finanças, educação ou dos negócios estrangeiros.
No campo da educação, muito tem sido feito nos últimos anos. Apesar das imensas críticas que se têm ouvido (algumas delas tremendamente populistas e demagógicas e outras no interesse das corporações que teimam em “atrasar” o país), a verdade é que os últimos anos coincidiram com a reactivação das escolas profissionais, com a introdução do Inglês no 1º ciclo, com o programa novas oportunidades, com a difusão do acesso à informática e à banda larga e com a democratização do acesso ao ensino superior. Se é admissível que algum do trabalho realizado vai directamente para o campo das estatísticas, a verdade é que em pouco tempo teremos uma geração de jovens portugueses que possuirá competências ímpares para a inserção num mercado de trabalho cada vez mais competitivo e globalizado.
No campo da Economia, é evidente a diversificação da base exportadora e a melhoria de algumas das dimensões do clima de negócios potenciadas pelo Plano Tecnológico. Efectivamente, os custos de contexto tendem a diminuir. Depois, é incontestável que, não só evoluímos na cadeia de valor, como também exportamos para um número cada vez mais alargado de países. Aqui, a importância dada à diplomacia económica é fundamental: as unidades diplomáticas são já mais do que mero espaço de representação, são muitas vezes importantes alavancas para as políticas de exportação. Por outro lado, Portugal tem vindo a evoluir no ranking europeu da inovação, sendo mesmo o país, de entre os moderadamente inovadores, onde o crescimento é mais acentuado. E há a aposta nas energias renováveis, decisiva para um país tão dependente energeticamente do exterior.
As empresas que vêm nascendo têm maior vocação exportadora e integram uma mão-de-obra cada vez mais especializada e qualificada.
Estas dimensões da mudança que está a ocorrer no país trarão claras implicações sociais; custos para as franjas mais desfavorecidas da população portuguesa que temo não estarem a ser devidamente acautelados, acentuando-as como o elo mais fraco da sociedade. As restrições económico-financeiras implicaram a adopção de políticas sociais mais restritivas, nomeadamente ao nível do apoio aos desempregados. Ora as últimas estatísticas mostram que o desemprego de longa duração tem vindo a crescer, afectando principalmente pessoas com baixos níveis de qualificação. E a tendência é para o agravamento desta situação. Pede-se por isso que sejam dadas as condições para que as camadas da sociedade com menores qualificações possam ser formadas e enquadradas na “nova economia”. Pede-se também que os apoios sociais não sejam cortados de uma forma inconsciente.
Estes ajustamentos levam tempo mas são necessários; convém no entanto não esquecer que, mais do que nunca, é necessário um estado verdadeiramente social.