terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Preço Certo | A Autoridade e a Concorrência

Chama-se Galp Base e já está a funcionar num posto em Setúbal. Carlos Barbosa, presidente do ACP, diz que esta é a prova de que a gasolineira 'sempre pôde baixar o preço dos combustíveis'.
Numa tentativa de combater o preço da gasolina dos hipermercados, a Galp lançou um conceito do género, denominado Galp Base, com preços de combustíveis mais baixos. [...]
O Automóvel Clube de Portugal (ACP) já reagiu a este anúncio, referindo que esta é a prova de que a Galp 'sempre pôde baixar o preço dos combustíveis'. 'É uma prova de que tínhamos razão, porque o combustível que a Galp quer agora vender em Setúbal numa chamada ‘bomba piloto’ vai acontecer no resto do país, porque a Galp tem margens para poder baixar os combustíveis', referiu o presidente do ACP, Carlos Barbosa.
O presidente do ACP lembrou ainda que 'Talvez seja altura de perceber que a [Autoridade da] Concorrência não funcionou mais uma vez', desejando que a partir de agora 'tenha percebido a lição, de uma vez por todas, de que os combustíveis podem ser mais baratos em Portugal'.
Questionado sobre o nosso jornal sobre as declarações de Carlos Barbosa, Pedro Marques Pereira foi peremptório. 'Estamos a falar de produtos diferentes. A gasolina é diferente, as infraestruturas são diferentes, o nível de serviço não exige mais do que um empregado. Por isso o preço baixa'.
O anúncio da abertura da Galp Base surge no mesmo dia em que o 'Diário Económico' noticiou que um quarto do mercado dos combustíveis está a escapar às grandes superfícies, dado o crescimento dos postos dos hipermercados que vendem combustíveis mais baratos.




Segundo o ACP, a Autoridade da Concorrência não funcionou. A meu ver, se o papel da Autoridade da Concorrência é obrigar as empresas a praticar preços mais baixos porque sim, está condenado ao mais absoluto falhanço. Aliás, qual o sentido disso? Crie-se então uma Autoridade dos Preços Baixos. Só percebo uma Autoridade da Concorrência que sirva para promover (espanto!) a concorrência. 

A história é simples. Os principais distribuidores tinham um modelo de negócio idêntico - mesmo tipo de serviço e preços similares. Surgiram postos em hipermercados com preços low-cost e estruturas mais leves. Seguiram-se um rápido aumento do preço dos combustíveis e uma crise económica, que tornaram os consumidores mais sensíveis ao preço. A desconfiança inicial quanto à qualidade dos low-cost (alimentada pelos grandes distribuidores) foi ultrapassada com o tempo e a experiência, e o seu peso cresceu de forma clara.

Hoje em dia, quem dá prioridade aos preços baixos tem postos de abastecimento low-cost, e quem não quer sair do carro para abastecer também tem as suas opções. Isto aconteceu não porque alguém se lembrou de obrigar as gasolineiras a reduzir preços, mas porque o Intermarché, o Carrefour, o E. Leclerc e o Jumbo (pelo menos) perceberam que havia um segmento de mercado que não estava a ser adequadamente servido. 

De facto, "os combustíveis podem ser mais baratos em Portugal", mas também podem ser caros, se alguém preferir um serviço mais cómodo. Por isso não faz sentido limitar preços, porque nem todos queremos o mesmo. Precisamos de preços baixos, tal como precisamos de preços altos.

A actuação de reguladores pela proibição é preguiçosa e pouco inteligente. Limitar preços, ou limitar cobranças de taxas e comissões, por exemplo, não trazem qualquer benefício na generalidade dos casos. A meu ver, o foco da actuação deveria ser colocado, isso sim, na promoção da concorrência (facilitar a entrada de empresas no sector) e na publicitação de informação sobre preços e condições de cada oferta.

A partir daí, a decisão é de cada consumidor, com base nas suas prioridades e não nas prioridades da Autoridade da Concorrência.


3 comentários:

  1. Então achas que não há conluio entre gasolineiras? Nas auto estradas o preço dos combustíveis de diferentes marcas é quase sempre o mesmo e quando varia é raro ser mais que um par de cêntimos. para além disso todos vimos como o preço do combustível aumentou o ano passado, voltou a descer por haver protestos e manifestações, numa oscilação de cerca de 22 cêntimos no caso do gasóleo. Este ano voltou a subir da mesma forma numa inflação de 18%. o problema é que não há concorrência dos combustíveis em Portugal porque o gasóleo passa pela galp (refinadora) antes de ir para qualquer outro posto, por isso à partida, a margem dos postos não é muito alta. Continua a não haver concorrência nos combustíveis, apenas há na estrutura dos postos.

    mas o preço nas auto-estradas não me cai muito bem ser sempre igual ao do concorrente.

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  2. embora o texto não diga isso, de facto não acredito que haja conluio. provavelmente há alguns anos havia de facto, ainda que tácito, mas com a entrada de marcas low-cost o conluio é desfeito porque estas assumiram uma guerra aberta nos preços.

    em relação às semelhanças de preços, penso que isso é exactamente um sinal de concorrência. já há tantas opções que nenhuma marca pode apresentar preços muito diferentes para o mesmo nível de serviço. eu, por exemplo, passo diariamente por 3 ou 4 postos num trajecto de 10 km!

    relativamente aos preços na auto-estrada, a história é curiosa... de facto os preços são idênticos, mas isso só acontece desde que se publicam os preços nos novos painéis. anteriormente os preços eram superiores nos finais dos troços, onde a probabilidade de teres de abastecer era superior. seria isso melhor?

    hoje em dia, como há informação, os preços foram alisados. e é natural que esses preços sejam superiores, porque a alternativa é saíres da auto-estrada para abastecer. a comodidade paga-se, certo?

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  3. Julgo que ouvi algo deste género do Director de Marketing da Galp: "Tudo se paga nas bombas da Galp (o cartão de pontos, a pessoa para abastecer, a publicidade...) portanto não podemos ter os mesmos preços dos Hipers. Já foi a algum tempo que ouvi o mesmo senhor dizer: "O combustível dos Hipers não é igual ao nosso dai a diferença de preços..."bem confesso que não entendo que custos é que realmente estão imputados aos preços da gasolina!!! Esta historia faz-me lembrar a que tenho quase todos os meses que é o preço do álcool etílico, alguém faz ideia de quantos têm autorização para encher álcool etílico em Portugal? São duas empresas. E o mais engraçado é que se trabalhares com um e pedires preço a outro, nunca tens uma resposta...da que pensar, e da que pensar também que existe uma fila de espera enorme de empresas a pedir licença para fazer enchimento e normalmente nunca é aceite o pedido!!! Olhem para o álcool de uma forma diferente é o meu pensamento do dia.

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